O costume de brindar começou com
os gregos antigos já no século VI a.C. Pelo menos, eles foram os primeiros a
escrever sobre o assunto. O ritual era a maneira de o anfitrião provar aos seus
convidados que a bebida alcoólica ? o lubrificante social ? não estava
envenenado. O convidado bebia do mesmo cálice que o anfitrião. Os romanos
costumavam adicionar pão queimado aos vinhos de qualidade inferior para reduzir
a acidez e torná-los mais palatáveis. “Tostus”, que em latim significa torrado
ou tostado, tornou-se sinônimo da bebida. Muito tempo depois, quando pedia um
jarro de vinho em As Alegres Comadres de Windsor, de Shakespeare, até Falstaff
disse: “Put toast in’t”.
É que vem o inglês “toast”
(brindar). Esse ritual ora simples e ora elaborado que pode ser visto em
qualquer lugar ? de bares esportivos a festas de casamentos e jantares
presidenciais ? tem sua origem no costume de mostrar aos convidados que você
não vai envenená-los com um vinho de má qualidade.
Você já se perguntou por que
batemos os copos ou canecas depois de um brinde? Essa prática também vem dos
gregos como prova de que o líquido não estava envenenado. O anfitrião colocava
parte do vinho servido ao convidado em seu próprio cálice e bebia. Se o
convidado confiasse a própria vida ao anfitrião, ambos bateriam suas canecas
como prova de boa fé. O som dos copos completa o ciclo dos sentidos envolvidos
no ato de beber: paladar, olfato, tato, visão e audição. O som dos copos
tocando uns nos outros durante foi ganhando importância. Ao longo dos anos, o
vidro veneziano começou a substituir os copos de cerâmica e recipientes de
metal. Para realçar o som do brinde, adicionou-se ao copo óxido de chumbo com a
finalidade de produzir o sonido que é mais perceptível no cristal irlandês.
Algumas taças eram tão elaboradas que seu som é emitido em um determinado tom,
como um fá ou sol sustenido. É por isso que as palavras “tim tim” em muitos
brindes de países europeus servem para reproduzir o som dos copos se tinindo.
Beber e brindar são eventos de
convívio entre pessoas praticados em quase todas as culturas do mundo. Um
brinde acompanhado de um discurso bem feito, como poucas coisas na vida, pode
tornar um momento especial. E esse gesto gracioso pode ser feito por qualquer
um; basta um pouco de planejamento, prática e se familiarizar com algumas
regras de etiqueta e protocolo. Tendo isso em mente, desenvolvemos a Periodic
Table of Toasts© (Tabela Periódica de Brindes), que pode ser adquirida pelo
site www.jfamarketing.com. O pôster é um guia para mostrar a você como brindar
em 35 países diferentes. Nele você encontrará o nome do país, o nome da bebida
nacional e a principal expressão para o brinde.
A
Tabela Periódic - A Tabela Periódica de Brindes é
um guia de brindes e bebidas de 35 países
O “terceiro lugar”
O brinde é um costume a ser
compartilhado com outros. Fora ocasiões especiais, ele costuma ser feito no que
se tornou conhecido como “o terceiro lugar”: um pub em Dublin, um bar em
Milwaukee ou Nova York, uma casa de beira de estrada em Milwaukee, o bistrô
parisiense, o kafeehaus vienense, a piazza italiana, o café em Istambul ou o
biergarten em Munique. Foi nesses lugares que muitos brindes foram feitos,
inventados e aperfeiçoados. Os terceiros lugares são um tipo de nivelador
social onde todo mundo é visto como igual. A origem da palavra clube vem do
verbo selecionar. Do mesmo modo que country clubs e camarotes separam ao invés
de unir as pessoas, os terceiros lugares as unem.
Quarenta anos atrás, uma pesquisa
feita na Inglaterra revelou que 90 por cento dos freqüentadores andavam menos
de trezentos metros para chegar ao sue pub preferido. Havia quatro pubs a cada
3 Km². Na Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda, o lugar ideal para
brindar tornou-se a public house ou pub. Mais comuns no século passado que
hoje, eles ainda são lugares onde você pode ir para encontrar os amigos num
terceiro lugar ideal; todos são lugares sociáveis. Foi Shakespeare quem
escreveu que “o bom vinho é um camarada bondoso e de confiança, quando tomado
com sabedoria”. Como disse um comentarista social, “os terceiros lugares devem
estar preparados para atender às necessidades de sociabilidade e relaxamento
das pessoas nos intervalos antes, durante e depois de sua presença obrigatória
em outros lugares (casa, trabalho, escola). Os terceiros lugares são
Gemutlich”. Nenhum outro idioma possui uma palavra tão eficaz na descrição de
conforto e aconchego oferecidos por certos lugares como o alemão austríaco. Há
um traço disso nos EUA, que apareceu no seriado de TV “Cheers”. O mote do
programa era “onde todos sabem o seu nome”.
Os brindes da cidade
Assim como o brinde já foi
garantia de que você não seria envenenado, no século XVIII ele era uma forma
das pessoas ficarem sabendo o nome umas das outras. Assim, uma das primeiras
formas de convidar alguém a brindar era dizendo “let us hob and nob”, algo como
“toma lá, dá cá”. Portanto, a expressão hobnobbing passou a significar “sair e
brindar”. Esse contato também substituiu a prática anterior onde todos bebiam
do mesmo copo. Os russos quebram seus copos após um brinde e um poeta russo diz
que isto é feito por pura alegria e para honrar ainda mais o brinde. Além do
mais, quebrar o copo é garantia de que nenhum brinde menos importante será dado
com aquele copo. O recipiente mais bizarro usado em brindes foi o crânio
humano. Os vikings desenvolveram a prática de beber dos crânios dos inimigos
derrotados, que eram transformados em tigelas. Não é coincidência que as palavras
escandinavas skoal e skull, ambas significando “coisas vazias”, estejam
relacionadas.
Com espaço para apenas 35
brindes, muitos foram omitidos. Um dos meus favoritos é “pula”, da Botsuana, um
país semi-árido, onde o que todos desejam é pula, ou chuva. Com certeza,
Botsuana é um país naturalmente obcecado com a “pula”, pois este também é o
nome da moeda nacional. Enquanto os brindes não variam em alguns lugares, como
Botsuana, eles são bastante diferentes em outros, como Cuba. Na Bodegita, o
boteco que Ernest Hemingway eternizou, há brindes escritos em todas as paredes.
Antes da revolução de 1959, expressões como “Cheers!” e “Salud!” podiam ser
encontradas nas paredes. Após a entrada dos comunistas, você podia ver “Vida
Longa à Revolução Popular”! E agora, com o desenvolvimento da indústria do
turismo em Cuba, voltamos a encontrar os “Cheers!” e “Salud!”.
Havia muitos brindes durante a
Revolução Americana, alguns reservados para o Quatro de Julho – um costume que
deveria ser reintroduzido. Imagine um piquenique, com hambúrguer, salada de
batata e milho cozido, e as pessoas brindando “a tudo que este país
representa”!
Os primeiros americanos tiveram
várias oportunidades de comemorar ou protestar de copo na mão. O famoso Green
Dragon Inn, em Boston, era onde Sam Adams, Paul Revere e John Hancock bebiam e
divulgavam suas opiniões, como esta de 1776: “Que aqueles que vivem de renda e
às custas da coroa nunca tenham lugar no Senado americano”. Assim eram
considerados os burocratas, lobistas e todos aqueles que buscavam ganhos
pessoais com dinheiro público no século XVIII. Outro brinde favorito era
“Sejamos livres das massas e dos reis”.
Benjamin Franklin ensinou
técnicas para um bom brinde de taverna a diplomatas europeus. Estava ele com o
embaixador britânico na França e um ministro francês uma noite, e o embaixador
alocado em Versalhes resolveu fazer um brinde ao seu rei: “A George III que,
como o sol em seu meridiano, espalha um facho de luz e ilumina o mundo”. O
ministro francês, não querendo ficar para trás, fez um brinde ao rei da França:
“Ao ilustre Luís XVI que, como a lua, cobre o globo com seus raios suaves e
benevolentes”. Sem perder a pose, Franklin levantou sua taça e fez o seguinte
brinde: “A George Washington, comandante das forças armadas americanas, que,
como Josué, ordenou que o sol e a lua ficassem parados; e ambos obedeceram”.
Os rituais ficaram ainda mais
elaborados. Um brinde real na Inglaterra do século XVIII era feito após a
sobremesa. A mesa era tirada, deixando apenas a decoração e as taças de vinho
do porto. Um decantador de porto era trazido à mesa e o chefe de ordenança
servia uma pequena dose ao anfitrião para garantir que o vinho estivesse
palatável. Se tudo estivesse de acordo, o vinho era servido primeiro ao
anfitrião, que enchia três quartos de sua taça e passava o decantador ao
convidado à sua esquerda, cuidando para que este não tocasse a superfície da
mesa. E assim por diante. Mas o brinde acabou saindo de moda. Em 1791, John
escreveu “o que poderia ser mais rude ou ridículo do que interromper as pessoas
à mesa com cumprimentos desnecessários?” Porém, em muitas culturas o brinde
tornou-se um gesto de amizade.
Uma busca na internet por brindes
e seus países de origem resultou no seguinte: brindes irlandeses, 1870
ocorrências; escoceses, 62; italianos, 52; russos, 26; alemães, 19; ingleses,
14; americanos, 10; suecos, 8; espanhóis, 7; gauleses e chineses, 3; húngaros,
1. Não foram encontradas ocorrências para o Japão.
O ato de brindar e suas tradições
tornaram-se parte de nosso vocabulário. Muitas vezes, dizemos que esta ou
aquela pessoa “merece um brinde”. Na Inglaterra do século XVIII, era comum
brindar àqueles que não estivessem presentes. Os brindes eram geralmente feitos
às celebridades, em particular às belas mulheres, que se tornaram conhecidas
como o toast of the town, algo como “o brinde da cidade”. O Toast of the Town,
de Ed Sulivan, um popular programa de auditório para a TV, manteve a expressão
viva nos EUA durante os anos 50 e 60.
Um dos meus brindes prediletos é
um irlandês do passado:
May you live as long as you want and never want
as long as you live.
May your glass be ever full,
May the roof over your head always be strong,
And may you be in heaven half an hour before
the devil knows you’re dead.¹
Um dos meus brindes favoritos na
Espanha:
Amor, Pesetas y Tiempo para
gozarlos
(amor, dinheiro e tempo para
desfrutá-los).
Cada país tem o seu brinde e sua
bebida nacional. Os dois, de algum modo, servem como embaixadores do país. Se
você estiver viajando a trabalho ou a passeio, causará uma excelente impressão
se souber como é feito o brinde local e conhecer algo sobre a bebida do país.
Para os highlanders escoceses, por exemplo, o uísque representa valores
tradicionais de igualdade, generosidade e virilidade; recusar um trago pode
parecer uma rejeição a estes valores. Na China, todos em volta da mesa brindam
com você individualmente. Mas muitas vezes o anfitrião pede ao garçom que encha
de antemão os copos dos outros convidados com nada mais que água. Assim,
enquanto você fica caindo bêbado para debaixo da mesa, os outros continuam de
pé.
Cada bebida tem um significado.
Na Áustria, por exemplo, o Sekt (champanhe) é servido em ocasiões especiais,
enquanto o Schnapps (destilado) é reservado para encontros entre amigos mais
próximos. A escolha da bebida, portanto, dita as regras de tratamento, à medida
que a presença de uma garrafa de schnapps pode indicar a mudança do formal
“Sie” para o altamente informal e íntimo “du”, no alemão. Se seu chefe quiser
compartilhar algo com você, ele provavelmente dirá: “Vamos tomar uma cerveja
depois do expediente!” em vez de “Gostaria de me acompanhar para um drinque?”
Nos países de cultura germânica,
escandinava e nos países do Leste Europeu, os rituais modernos para a hora do
brinde são os mais fortes e formais. Nesses países, ninguém à mesa deve
experimentar o vinho ou qualquer bebida alcoólica até que o anfitrião tenha
brindado. Vamos agora falar dos brindes e das bebidas dos 35 países que
selecionamos para ajudá-lo a ter sucesso em suas empreitadas internacionais.
¹ Que vivas o quanto quiser e
nunca passes necessidade enquanto viver.
Que seu copo esteja sempre cheio,
Que o telhado sobre tua cabeça
seja sempre forte,
E que chegues aos céus meia hora
antes de o diabo saber que estás morto.
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Olá!
Que alegria ter você aqui...entre...entre...se acomode aqui ao meu lado...vamos tomar uma xícara de chá? ou café, se preferir...estou feliz que tenha vindo! Você e sua Alma encantadora!
Sinta-se em casa...e, sempre que quiser...
APAREÇA!
Sua presença ilumina meu dia.
Volte sempre!!